André Pena e Michelette Harris.
[Addecet. Estes artigos somam-se à lei aprovada por unanimidade pelo parlamento galego no dia 11 de março de 2014 com o nome de Valentín Paz-Andrade capacitando à Xunta de Galiza para incorporar progressivamente a língua portuguesa no sistema educativo galego como uma matéria opcional com a finalidade de que nossa Nacionalidade Histórica, aproveite como uma vantagem competitiva sua proximidade a um bloco lingüístico conformado por 254 milhões de falantes dos cinco continentes]
O DEUS QUE SOBRETUDO ADORAM É MERCÚRIO
Em outro lugar, em um extenso artigo apresentamos um detalhado estudo da
monoteísta trinitaria estrutura da Religião Celta [ r, 179-236 ], detendo-nos no asserto de Cessar assinalando na religião e panteão o papel do politécnico Lugh.
Deum maxime Mercurium colunt. Huius sunt plurima simulacra, hunc omnium inventorem artium ferunt, hunc viarum atque itinerum ducem, hunc ad quaestus pecuniae mercaturasque habere vim maximam arbitrantur. Caesar De Bello Gallico L VI, 17.1
O deus que sobretudo adoram é Mercúrio [o deus Lugh]. Dele são muitíssimas imagens, a este consideram inventor de todas as artes, este é guia dos caminhos e das viagens, acham que ele tem o máximo poder para atingir o dinheiro e para o comércio. César. De Bello Gallico Lib. VI, 17.1
Na Civilização Celta, a Fé e o Sentimento religioso envolvem tudo como densa brêtema, condicionando o sistema legal, social e as instituições. Pesquisemos apenas uma facies ilustrando a modo de exemplo a figura do divino hospedeiro visitando, mais uma vez, no Fisterra (Finisterre) Atlântico, os curiosos epítetos do liminar deus do destino da alma.
I BRIAREO, BERO BREO, BRIEOGO, BREOGÃO, VESTIO ALONIECO “DEUS HOSPEDEIRO”
O ata agora esquecido Briareo – sustentam Pena & Erias -, foi na Antiguidade bastante importante para nomear a fronteira entre o Mediterrâneo e o Oceano povoado de monstros: as ‘Colunas de Briareo’, resenhando também estes autores como o epíteto do deus dos mortos ie. *Bhrgh […][berço da briugaid, a instituição céltica do a cada vez menos sombrio e mais acolhedor hospitaleiro Briugú (Pena)], significando provavelmente ‘Alto, Elevado, Forte’ assinalava na área indo-européia “a presença de um deus da fronteira entre a vida e a morte do passado pagão, precedente do São Pedro Cristão. Ex A. Pena & A. Erias.
SANTOS, BARCOS, BRETEMOSAS ILHAS. BEROBRIGA, HI-BREASAIL, TIR NA NOG…
Para os primeiros neolíticos, a saída do sol no povoado a cada novo amanhecer constituía um verdadeiro milagre. Nasce entre as montanhas por um lugar a cada dia renovado, pujante, remonta imparavel o céu, detém-se ao meio dia e declina logo se dirigindo para o mar: apagando-se ao fim depois de um espetacular crepúsculo no horizonte sua luz cai a noite.

Meus ótimos amigos Uta Katerina e Massimo em Herbeira. “Envolvidos na vertigem tempestuosa do mar que brama desde os abismos, os alcantilados de Teixido dominam desde a mais privilegiada atalaia de Europa o borde ocidental do Océano Atlântico. Desde esta atalaia, quando são mais longos, nos dias na época clara do ano segundo a crença dos Celtas que viviam nos promontórios da Europa Atlântica, se podia ver o sol desaparecer além do Océano. Segundo a antiga religião precristiana o Sol dirigia-se a uma brumosa ilha conhecida como Ilha da Eterna Juventude. Paraiso luminoso, e morada nocturna do Sol e da Lua, acolhia essa Ilha as imortais almas dos bemaventurados que precisavam cruzar o mar numa barca conduzida por um psychopompos ator: o Deo Lari. Este Paraiso Celta, definido ocasionalmente, p. e., por San Amaro na cume de uma elevada montanha como uma fortaleza de dificil acesso, de impenetráveis muros e portas douradas onde só podiam entrar os mortos, ao que se encaminhavam as ánimas benditas à procura de refúgio e vida eterna afunda suas raízes na noite dos tempos”. [André Pena]
Nossos primeiros agricultores viam ao sol sobre o horizonte ao longo do ano, avançando e retrocedendo. Não em vão desde remotos tempos ás doze horas do dia coincidem com os doze meses do ano, correspondendo a oposição bipartita entre o dia e a noite, entre o viver e o morrer, com uma velha divisão do ano, uma estival época clara e uma invernal época escura.
Desaparecendo como engolido pela noite, o Sol renasce de novo restabelecendo sua pujança e brilhante esplendor com a cada dia, com a cada primavera.
Newgrange. Brú na Bóine, Co Meath . Trisquel sobre a pedra da cámara, e luz solsticial. El sol orbita la Tierra en ‘tres pasos’ (Pena 2004) en el primero paso toma posesión del cielo; en el segundo paso toma posesión del mar, y, penetrando en el interior de la tierra, toma posesión del Otro Mundo en el tercero. Representando a mi modo de ver desde el Neolítico el trisquel los tres pasos del sol, como síntesis del sistema trinitario monoteísta celta, con una función análoga a la desarrollada en el cristianismo por el Orbe Tripartito que en la primera partición muestra el cielo con el sol, la luna y las estrella; en la segunda muestra el mar y los peces, y muestra la tierra en la tercera-.
Observando estes fenômenos, talvez nossos ancestres da Europa tenham imaginado que perseguindo ao sol no descenso, seguindo seu ronsel, renasceriam depois da morte.

A ORIGEM Ainda sendo difícil reconstruir de modo exato como pensavam os povoadores da Antiga Europa Atlântica, estes nos legaram gravados na pedra os suficientes depoimentos sobre suas idéias. Segundo o penso, revelando o que para os habitantes dos finisterres atlânticos significa o ocaso solar, numerosos petróglifos escandinavos da Idade do Bonze, em Suécia, em Noruega, em Dinamarca ou em Finlândia, mostram sobre o horizonte um sol muito baixo dirigindo-se para um navio que espera sobre as águas do Oceano; igual que também mostram, ao meu modo de ver, como ao ir para o mar, vão indicando a suas seguidoras: as almas dos animais e dos homens, o Caminho, igual que hoje a concha amarela, transformando o Sol em pés seus raios e projetando as “pegadas” nas rochas. Dirigindo-se para a nave que aguardava, talvez ex corruptio linguae convertida pelos gregos, já em cálice, já em caldeiro, o Sol ia deixando impressões ou pistas ao descer, revelando o segredo caminho ao porto de embarque onde inumeráveis naves fantasmais aguardam pela almas. Estes portos de embarque, segundo o documentam em medíocre latim os diplomas medievais, chamavam-se em Galiza Arenas Paradisi, “Areias do Paraíso”. Dispostas a bordo as almas, ocupando seu lugar no banco, as barcas seguem ao navio solar. Sujeitando com firmeza a cana do timão, o psychopompos barqueiro, como um Caronte as leva a bom porto. Ocasionalmente os petróglifos nórdicos o representam, sobressaindo do mar com a nave repleta de remeiros carregada sobre seus ombros, ou alçada sobre sua cabeça, como um gigante São Cristovão. Sem dúvida os mortos vão nas naves e os gigantes que as conduzem, avançando a grandes zangadas em pos do barco solar, são condutores de almas.
Se na Idade do Bronze os petroglifos da Europa atlântica, como o de Pena dá Laxe mostra barcas repletas de almas seguindo o ronsel do sol que declina, no Neolítico, a nave representada em posição vertical na câmera funerária do dólmen de Antelas, Oliveira de Frades, Viseu (Portugal), significativamente expressando a direção de sua singladura ao Outro Mundo, poderia remontar estas crenças a remotos tempos.

Insulae Deorum. Ávalon, com sua brisa marinha e sua celestial música, luminoso paraíso dos habitantes dos finisterres atlânticos tem no ardente Tártaro escuro inferno platónico ou cristão, um sinistro contraponto. Mas os contactos de antigos navegantes com as ideias celtas, alumiaram o pesimismo dos clássicos. Hesíodo já fala do rubio Radamantis e da bela e leda planície Elusión, percorrida pelos ventos do Noroeste, postrimeira morada de reis e heróis gregos que foram, e também das ilhas dos Bem Aventurados. E Píndaro, no ano 476 a. C. [JUBAINVILLE] “a planície Elusión confunde-se [já] com as Ilhas dos Todopoderosos ou Bem Aventurados. Nessa ilha encontra-se a fortaleza de Cronos associado a Radamantis”.
Em Galiza localizamos de modo preferente o Paraíso, a mansão de Briareo [q, 23-38] nas ilhas Cíes, Insulae Deorum, “Ilhas dos Deuses”, ou psvlm. Insulae Siccae, psvlm. “Ilhas dos Cegos” [cf. comparativamente Caecilia > Siçilia> Içia, cf. Santa Icia de Trasancos].

Na Península do Morrazo no altísimo alcantilado que forma o monte chamado Facho de Donóm, junto a um castro, num pequeno refúgio e santuário não pagão, mais já cristão, do século IV d. C. o arqueólogo SÚAREZ OTERO achou centos de estilizadíssimas aras votadas ao DEO LARI BERO BREO, “Deus Lari “das Animas” da Elevada Cidade”, nome tomado do pagão Donn, “Oscuro”, alcunhado Damach, “rico em hóspedes”, do Brieogo, o Briugú, “hospedeiro”, galaico, que por receber aos mortos com os braços abertos e um sorriso de boas-vindas também se chama Vestio, psivlm. de *gwest, “hospedeiro, hóspede”, em Deo Vestio Alonieco, para Deus ” Hospedeiro do Além”.
As aras de Donóm, com forma de estela funeraria foram depositadas neste lugar pelos vivos “livrados” da morte no alto do Facho de Donón”, em frente às Ilhas Cíes, fogar de Deus – da Galiza oficialmente cristã-, das ánimas “da Alta Casa” BeroBreo onde lógicamente, estando vivos, não podiam entrar.

Na prefeitura de Cangas, no povo de Donóm, no alto do Facho, monte muito dominante sobre o mar e ilhas Cies, sito o extremo ocidental da Península do Morrazo, com espectaculares panorámicas sobre as Ilhas Cíes e à Ilha de Ons, datáveis no Baixo Império, foram descobertas, exactamente aquí, na parte mais alta do castro abandonado na mudança de era, previsivelmente em seu edículo ou santuário um inusitado número de aras-estelas, incrementado espetarcularmente numa recente campanha de meu colega de promoção Suárez Otero. São aras dum modelo de insólita invenção, com muito particulares variações, todas ou quase todas, colocadas num santuário duma Galiza oficialmente cristã muito avançado já no século IV após Cristo.
Num castro frente às Cies, no alto cantil do Facho de Donón remontável ao Bronze Final, abandonado segundo parece na mudança de Era, Suárez Otero desenterrou nas campanhas arqueológicas de 2003 e 2004, uma edícula construída junto o outeiro com lacus anterior (Koch, 824), pré-romano dos séculos III-IV d C.: o maior santuário do Império e da já cristã baixo imperial (Pena & Eiras 2006) Provincia Gallaeciae.

Arnold Böcklin Elisian Fields. Na Irlanda Celta, as referências à Ilha dos Mortos ou Sídh, “concentram-se […] em torno da Figura de Donn [Donn] e sua Morada Tech nDuinn , “Casa de Donn” [Velasco]. Donn, prevenindo a Irlanda de plagas pediu que seu corpo se sepultasse numa Ilha em frente à Costa. A versão pagã irlandesa da Casa de Donn ter-se-ia mantido no presente cristão da Galiza, situando as bretemosas ilhas do Paraiso na Ilha de Onceta ou nas Ilhas Cíes, na desembocadura do Mar de Vigo, onde ainda hoje marcham [Alonso] as almas, dos mortos e dos afogados no mar.
Frente às Cies, às portas de BeroBriga, “Alta Casa” do Deus cristiã alcumado BeroBreo “da Alta Casa” ou Bero Brieogo, “alto hospedeiro” sobre o altíssimo extremo da Península do Morrazo (O Io, Cangas), anônimos oferentes livrados da morte revivendo intencionada forma de estelas consagraram, pro salute, castigadas, virando as costas às Insulae Deorum, onde –ao contrário
que em São André de Teijido- não podiam entrar, 174 esbeltas aras d
e granito local, 130 epigrafadas com “prácticamente” – dize Suárez Otero- “el mismo formulário DEO LARI BERO BREO ARAM POSVI ou POSVIT PRO SALVTE”; isto é em dat. de s., DEO, “a Deus”, + LARI “das ánimas” o epíteto do albergador – “Alta Casa” “BEROBREO” , [com uma variante, BRIEOGO] ‘Briugú, Hospedeiro’ [das Ánimas]’.
Os celtas segundo Éforo habitam no pôr-do-sol atlânticos alcantilados, coloreados a cada dia e a cada ano pela vermelha ilha do solícito brilhante sol poente [r, 214-216], do Lugove do segundo passo [r, 231], do Dying God, radiante apolíneo Grannos, “reluzente como a grana”, declinando ao Cálice, ao Santo Graal [r, 228-233], a sua barca ao voluntário ocaso, uoluntarie sacrificandum Domino, non cuiusquam cogentis imperio.

SKANDINAVIENS HÄLLRISTNINGAR Tab 42&43. Barco do Além, discos solares em posição solsticial e Pléiades. Petróglifo escandinavo [investido]. Fig 157. (1/20) Bråbo Härad, Östra Eneby Sn, Memmings Härad, Borgs Sn och Åkerbo Härad, Rystads Sn (Östergöthland). A.E. Holmberg. “Do bendito San Amaro, a xente sabe referir a coñecida historia da súa viaxe en precura do Paraíso, cómo desembarcóu en lonxanos países, atravesóu con moitas penas unha gran serra, e chegou por fin á porta do lugar en que estaban os Patriarcas e os Profetas; a poder de moito pedir, deixárono guichar por un buratiño, mais axiña o mandaron marchar, e cando volvéus a onde tiña o seu barco xa ninguén o coñecía, porque íl pensaba que non estivera mirando máis dunha miguiña e resulta que estivera trescentos anos”. Vicente RISCO, “A Fé e o Sentimento Relixioso” in Historia de Galiza (Ramón OTERO PEDRAYO, Director), vol. I Etnografia, p. 340. Buenos Aires, 1962
rumo a Ávalon, “Ilha das Maçãs”, rumo à paradisíaca Eritréia, rubra ilha de Hispania; rumo a Hi-Breasail (Brasil) […].
PSYCHOPOMPOS AGENTES
Conduzidas seguindo o Caminho do Sol as bendita
s almas dos defuntos por psychopompos Lares Viales, chegam às Águas Santas, às Areias do Paraiso das praias atlânticas a embarcar ao Além concebido como Ilha – e concebido também em termos de Geografia Sagrada como um formoso lugar baixo terra-. Quase qualquer ilha ou arquipélago – aparecendo e desaparecendo perante atores de maravilhosas viagens por mar [navigationes, imrama, echtrae] os santos celtas, São Brandão, São Maló, São Amaro; Trezenzonio, etc., é, em realidade, o Paraíso dos celtas que moramos nos finisterras atlânticos [m, 284-289; 307] .
A escatológica concepção da brumosa Ilha de floridos e verdes prados eleva no alto da bicuda ilha a Bero/briga [Pena 2004 , 284-309] de *uer– “acima, sobre”, briga, “castro, fortaleza” de áureas e impenetráveis portas: “Alta Casa”, onde Briareo, Berobreo, Breogo, Breogão, Briugú, o “Hospitaleiro”, como um pagão São Pedro [Pena & Eiras q, 25-29], aguarda às benditas animas dos que cruzaram o mar entre a vida e a morte.

Sobre o mais alto alcantilado continental dos Reinos Celtas, regia prosapia da sagrada Irlanda, Tom O’Neill, contempla o esplendor de Ávalon no milêsio finisterre Atlântico: “Empoleirei-me ao alto do alcantilado, com as ondas do Océano Atlântico batendo baixo meus pés. Olhei para o Norte, ao horizonte. Esta era a terra dos vivos, que se estendia ao longo de 1.500 quilómetros, desde aqui até a porta de um pub escocês”. Nada como a sensação de se sentir em casa”. TOM O’NEILL [Tom O’Neill é escritor da revista National Geographic, e editor regional em Ásia desta prestigiosa sociedade. Elaborando um artigo dedicado aos Reinos Celtas decidiu percorrer um treito costeiro do Caminho de Santo André de Teixido com o historiador e arqueólogo de Narón (Narão), Galiza], André Pena. Em Março de 2006 seu artigo titulado “Os Reinos Celtas”, abriria este santuário a mais de 350 milhões de leitores em todo mundo]. Este e o fin do Caminho que imita a morte é a ressurreição da Luz do Mundo, do Sol que morre, do Dying God. Outrora monopólio dos Lares Viales e as ánimas benditas a etapa terrestre, a que mais pegadas e satisfações fornece aos arqueólogos, é hoje a etapa do senderismo, a etapa jubilar jacobea. É a representação da vida revisitada pela alma desde o nascimento até o límite último. A etapa confiada a conductores especializados, a Hermes ou Mercúrio e ao seu homólogo o Lugh Oghmios Celta, contendo a esencia da doctrina dualista indoeuropéia. O dia e a noite, o nascimento e a morte, a terra froitífera e o deserto que se abre nos cantís dos fisterras atlânticos dão-se cita aqui, nos cabos do mundo, dos que dissera Risco referindo-se a São André “que dá a impressão de que ali rematou tudo, e que dalí para adiante não há mais do que água salgada escura e fria. Como dissera Rudyard Kipling, ‘Lá se olha do homem o derradeiro límite”. O choque na doctrina dualista ‘que enfrenta as benfeitoras divindades do dia, do bom tempo e da vida, contra os poderes maléficos da morte, da tormenta e da noite”, que enfrenta a Hércules, herói solar, com Argos “o dos cem olhos que são as estrelas da noite”. [A. Pena]
É a Torre de Brigântia do mito fundacional da Irlanda que intuiu, em 1884, H. d’Arbois de Jubainville . E é também a Torre chamada de Hércules, em comemoração da X viagem do herói ao finisterre atlâltico de Iberia a tomar prestada a copa do Sol.
O CAMINHO HERACLEO
Desde os primeiros tempos do Neolítico os agricultores, pendentes do céu em seus labores agrícolas e gandeiras, sabiam que no estrelado céu de Europa há um caminho escrito ao que chamavam a Cabritinha ou a Via Lactea. Esta Via assinalava na noite o Caminho que de Oriente até Occidente realizava durante o dia o Sol, rota hoje chamada Caminho Francês ou de Santiago, que sorteando de além os Pirineos o Alpe Cantábrico e os Picos de Europa percorrem caminhando até os Finisterres Atlânticos de Galiza os peregrinos. O Caminho de São André de Teijido e de Santiago de Compostela tem um comum antepassado na mitología Grega. Transitado tanto por gregos como por bárbaros, este caminho decorria desde Itália, pelo sul de França e por Iberia até o Atlántico. Chamava-se segundo Aristóteles em lembrança do caminho mítico que Hércules teria feito de Itália a Iberia e a ilha atlántica CAMINHO HERACLEO.

Torre de Hércules e Torre de Brigantia e de Breogão. O tema indo-europeu da viagem por mar das almas e a atenção pelos finisterres atlânticos foi-se adatando ao passo dos séculos e dos milênios, até enlaçar, depois do feliz aparecimento do cristianismo, com o fenômeno Jacobeo e a peregrinacão a Teijido. O belo e enigmático recipiente, uma “cantiplora” micénica aparecida casualmente intacta numa praia em Duio, Galiza é um sozinho objeto, descontextualizado que não pode ilustrar o temporão conhecimento de nossa costa por mundo grego. Mas nos tempos do filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), como faz algum tempo demonstramos [Pena 2006], a pré-histórica rota dos fisterras atlânticos de Ibéria com seu sistema de hospederías e de proteção já estava totalmente consolidada. À moda de seu tempo, em clave de geografia mítica grega, Aristóteles oferece-nos relevantes detalhes do itinerario, do Caminho do Sol ou Caminho Heracleo.
Recolhido na Teogonía de Hesíodo [finais do século VIII e começos do VII a. C], ou no Hino Homérico a Helios , o Caminho que desde Itália se dirigindo ao ocidente discurría pelos Celtas do noroeste de Itália, pelos Celtoligios -os Celtoligios ou Ligures são os habitantes do e sul de França- e Iberia, chamado Heracleo, comemorava o décimo trabalho de Hércules, em que derrota a Gerião e lhe rouba o gando, episódio relacionado pela tradição historiográfica com o famoso faro galaico-romano da rota de Britania chamado Torre de Hércules.
A viagem de Hércules a Eritria, assinalado pela Via Lactea, é o Caminho do Sol de Oriente a Occidente, no curso do ano e no curso do dia, responde como o viu M. M. Davies (1988) e outros autores a uma velha concepção da abóbada celeste. Para os astrónomos da antiguidade, o Sol passando Geminis, tomava seu carro na constelação do Auriga, e depois de atravessar o ‘deserto’, espaço sem estrelas visíveis, chegava á resplendente mancha de leite cruzando o céu, quase desaparecida hoje pela contaminação lumínica de nossas cidades: A Via Lactea. Um caminho salpicado de estrelas consideradas pelos antigo as vacas de um rebanho conduzido, por uma estrela próxima, Capella chamada ‘O Pastor’ e também Euritrião, pela mitología grega. O caminho prosseguia pela constelação de Canis Maior onde Sírio, ‘O Cão’, se converte no cão pastor bicéfalo Ortro, irmão de Cérbero pelo maligno cintilo vermelho. Orião, outra constelação era o guardião desta Via: Gerião, um gigante representado com duas pernas separadas, três troncos unidos pela cintura, três cabeças e três braços. Na geografia mítica grega, indo Hércules pelo deserto Libio (África), para Erutria, vermelha ilha de Occidente, a roubar as vacas de Gerião, zangado pelo calor de Helios, levantou seu arco o Sol e disparou-lhe uma seta. Mais depois Hércules obteve do Sol emprestada a dourada copa, ou caldeiro -seu singular navio no Océano-, e atravessando o mar ocidental, tras matar ao bicéfalo cão guardião Ortro, ao pastor Euritrião, e, ajudado por Menecio pastor do Hades, atravessar com uma seta o monstruoso dono da vacada, Gerião, levou-se o gando da ilha.
Conta-nos Aristóteles que ao longo do Caminho ao finisterre atlântico existe uma infra-estrutura de proteção aos peregrinos; que os habitantes dos lugares pelos que passa se vêem obrigados a proteger aos peregrinos; que ao longo do Caminho um sistema penal internacional castiga aos que danam aos peregrinos .
“Afirmam” – diz o filósofo- “que desde Itália até o país Celta e os Celtoligios e Iberia há um caminho [sagrado] chamado Heracleo, e se por ele caminha um grego ou nativo, é protegido pelos que vivem perto, para que não sofra nenhuma injustiça, e que exigem o castigo contra aqueles por obra dos quais tenha padecido a injustiça” Aristóteles Notícias Maravilhosas 837 a 7. [A. Pena 2006 descarga aquí San Andrés de Teixido]
O caminho chamado Heracleo percorrendo desde a Megalê El’lás, pelos celtas [habitantes do noroeste de Itália], pelos celtoligios [Marselha, celtoligio é equivalente a ligur] e Ibéria- , se dirigia ao Ocidente [se fazia, manifesto errore, ir a Cádiz, Gades], comemorava o décimo trabalho de Hercules, quando o herói tas derrotar a Gerião lhe rouba o gando. Episódio que a tradição antiga espanhola [recolhida pelo rei Afonso X em Las Partidas] situa na Torre de Hercules, o faro galaico-romano da rota de Bretanha.
O programa iconográfico“A Fíbula chamada de Braganza, por pertencer ao Duque de Bragança, qualificada de excepcional obra, é um broche ou imperdível de ouro, do tipo “de longa travessa” (perdido) utilizado para unir a vestimenta, mercado pelo Museo Británico por um milhão duzentas mil libras esterlinas do ano 2007. Não é obra de orfebres ibéricos, dantes ao invés, a peça parece, ser obra de um bom artista grego, ou galaico. Confeccionada, seguramente, por encarrego de um príncipe celta, pois não há nela nenhuma concessão ao clássico, à arte grega e, pelo contrário, na fivela, tudo, menos o programa iconográfico, é intencionadamente celta, como se deduz da disposição plástica e narrativa dos elementos conservados. Tudo na magnífica fíbula aparece representado pars pro toto, ex more céltico, o jabalí, as ondas do mar, o lombo do cão arrepiado de serpentes, o laço infinito, a banda engolada, etc. Provindo a peça de Portugal, e sendo pelas suas características uma fivela de longo travessanho, esta deve ser em atenção ao princípio de sua procedência e sobretudo pela temática representada, sem dúvida o tema de Hércules muito popular no âmbito de Gallaecia e do sudoeste, restringida ao âmbito galaico ou lusitano. O programa iconográfico seguramente representa os trabalhos de Hércules [Pena Granha], ex more céltica, pars pro toto, como já dissemos. Não tudo se conserva e parte do programa original -os trabalhos representados no longo travessanho-, se pôde ter perdido. O broche em base, entre outras coisas à decoração lateniana da vainha da longa espada celta – não é, nem pode ser, a vainha de uma falcata ibérica-, foi datado pelos experientes no século III a.C. Na fivela se escenifica a luta de um jovem herói, seguramente Hércules, nu, armado como um príncipe celta, com capacete tipo montefortino, como o do museu da catedral de Tui, scutato, isto é com o longo escudo celta, e com uma espada longa celta tipicamente lateniana, cuja perdida folha, como facilmente se deduz dos detalhes da vainha, idênticos aos das fundas espadas do s. III e II a C do Museu Britânico, em nenhum caso poderia corresponder a uma falcata-, lutando contra um monstruoso animal [o leão original, sem dúvida por estar rompido ou deteriorado, foi, como se apontou, substituído, numa tão formosa como desafortunada restauração realizada, sem dúvida, na Belle Époque, por um cánido ou lobo]; também se representa alusivo, seguramente, ao X trabalho de Hércules, sempre pars pro toto, um cão, seguramente Ortro, o cão de Euritrión, com dupla cabeça”. Cf. Wikipedia sub uocabulo Fíbula de Braganza.
Em tempos de Aristóteles o Caminho do Sol indicado pela Via Lactea foi repensado pelos helenos, incluído em seu panteão e convertido no Caminho Heracleio freqüentado por peregrinos do mundo clássico. Assim a geografia mítica, a Teogonía e o Hino homérico a Hélios, recolhe o episódio do Roubo do Gando de Gerião e da viagem de Hércules ao Finisterre -o décimo trabalho-. Segundo a tradição Hércules, sudoroso e fatigado pelo abafante calor, levantando seu arco ao disco de Hélios disparou-lhe ao Sol uma seta. A Hélios o desatino de Heracles fez-lhe tanta graça que se brindou a lhe prestar seu dourado caldeiro, embarcação que tinha preparada no Atlântico para atravessar a cada noite o Océano. O mítico caminho de Hércules do sul de Itália até o caldeiro que lhe prestou Hélios no Atlântico de Ibéria é em clave mítica o Caminho do Sol, indicado pela Via Lactea e as constelações próximas, convertido, possivelmente desde o Neolítico num itinerário freqüentado por peregrinos de toda Europa. Os usos e costumes milenários derivados da peregrinação originarão com o passo do tempo um sistema de garantias penais, de proteção universal, e de responsabilidade, outorgada e dispensada pelos habitantes da rota aos peregrinos celtas, helenos e bárbaros, à que faz menção Aristóteles, e talvez pudesse nascer também uma espécie de língua franca.

TORRE DE HÉRCULES E CAMINHO HERACLEO A tradição antiga espanhola [recolhida pelo rei Afonso X em Las Partidas] situa em a Torre de Hércules, o faro galaico-romano da rota de Bretanha o episódio do Roubo do Gando de Gerião, o fim da viagem de Hércules ao Finisterre, culminando o Décimo Trabalho. É muito provável que a Torre de Brigantia, ou Torre de Hércules fosse edificada sobre um monumento [psvlm. uma ara] dedicado à divindade dos laços, ao psychopompos Lar Vial, precedente do São Pedro do presente cristão, associado a Hermes-Marte-Bandua-Setanta-Hércules-Oghmios, ficando sua lembrança na chamada Ponta Herminia [lugar famoso por ser foco de fatal atração para os navios]. Quando por razões estratégicas se fez o altíssimo faro nesse lugar, o arquitecto, de modo expiatorio reproduziria em honra a Marte numa rocha um esquevomorfo de dita ara.
Aristóteles oferece relevantes detalhes do Caminho Heracleo com sua infra-estrutura de protecção aos peregrinos, a cárrego dos próprios habitantes ao longo da rota, e assinala já uma garantia penal internacional com severos castigos aos que ultrajem os peregrinos. O extraordinário filão interpretativo da Torre de Brigantia e de Hércules convertem-na num elemento fundamental, senão o mais importante, do imaginario mítico de Europa.
II BRIEOGO, BRIUGÚ, “HOSPEDEIRO”
![A. Pena & A. Erias [AB 2006]](https://andrepenagranha.files.wordpress.com/2014/05/n5a.jpg?w=640&h=348)
BRIEOGO. O epíteto do deus dos mortos ie. *Bhrgh […] significando provavelmente ‘Alto, Elevado, Forte’ assinalava na área indo-européia a presença dum deus da fronteira entre a vida e a morte do passado pagão, precedente do São Pedro Cristão” . A. Pena & A. Erias [AB 2006] “For the word briugu no etymology has been suggested. Vendryes, 20 in stating that the etymology is unknown, expressly excludes any connection with the root of brí ‘hill’: `Un rapprochement avec brí semble peu probable’, while at the same time affirming: `De même, c’est un terme trop ancien pour avoir été emprunté au breoga “gouverneur, chef ‘. Nonetheless, in spite of Vendryes’s reservations, bré ‘hill’ does seem to provide a suitable starting-point for the discussion of the etymology of briugu. Brí [i/e], gen. breg, acc. brig has congeners of similar meaning in all the Celtic languages and further correspondences in Germanic, e.g. Goth. baurgs, OHG burg.21 All are derived from a root *bhrgh– ‘exprimant l’idée de hauteur et de force’. A well-known Irish derivative of this root is the present participle formation found in the goddess/saint/personal name Brigit *bhrgh-nti”. The verb itself may well survive in Ir. brigaid/brigid ‘shows, declares, confirms, etc.’ […] As a perfect participle active briugu would have meant `having surpassed’ or substantively `one who has surpassed’, referring to the prominent position occupied by the briugu in Irish society.32 It is clearly an archaic formation since the perfect participle active was no longer a productive category at any stage of the known history of the Irish language and survives only in the few lexical items noted above, `lord’, `criminal’, `witness’, and `hospitaller‘, all of which belong to the socio-legal sphere, where such survivals might be expected. This may be compared to the parallel survival in Germanic of substantival formations from the same root with meanings also in the socio-legal sphere, as breogo (u-stem) `ruler’, ON bragr ‘metre (as elevated speech), preeminent’, bragningr ‘king’, Bragi `god of poetry’. Thus one may agree with Vendryes that Ir. briugu is not borrowed from AS breogo but both words and their ON congeners are differing formations based on the old root *bhrgh- [A. Jóhannesson, Isländisches Etymologisches Wörterbuch (Bern 1956) 625]. Ex Gearaoid Mac Eoin Old Irish Briugu, “Hospitaller” and connected words Zeischrift fúr celtische Philologie [ZCP) 49-50 (1997) 482-93.
A hospitalária galaica alcunha: Brieogo, ‘Senhor da alta Casa, Hospedeiro’, do Deus dos mortos a quem os livrados dedicam espilidas aras-estela na Briga, “castro”, de Donom, Ío, Pontevedra, possibilitou a criação na Idade Média com material galaico do Facho de Donom, do mito irlandês de Breogão aos monges de Terriglás [Pena & Eiras q, 23-38].
Todas as ilhas atlânticas como paraísos naturais que são lembram o Além.
BATALLA DE LAS “ISLAS CÍES”. CÉSAR EN BRIGANTIUM

BATALHA DAS “ILHAS CÍES”. CÉSAR EM BRIGANTIUM No Ano 61 a. C., Julho César, cumpridos quarenta anos, angustiado pelas dívidas contraídas, trás gastar imensas somas na sua promoção política, estava prestes a ser processado. Os seus credores tranquilizam-se quando obtém, por sorteio, a propretura de Hispânia Ulterior e um aval de Craso, o mais rico dos romano (Plutarco) de 830 talentos (25 milhões de sestercios). Deste modo optem a Pretura da Península Ibérica, que ocupa como Proconsul [ segundo Suetônio]. César, apesar de ter pendentes compromissos de pago , ambicionava em realidade ao Consulado. Esta era a sua grande oportunidade para obter de vez [os três P]: ‘poder’, ‘prestígio’ -desejava emular a Alexandre -, e ‘pelas’ [“dinheiro”]. Se roubas és um ladrão, mas se o fazes com um exército, e roubas a muita gente, és um conquistador [ou um ministro]. Assim o psicópata de César, passou-se o ano comprido de governo de Hispânia, saqueando Lusitânia e Gallaecia. Em seguida que chegou a Hispania […], em poucos dias alcançou reunir dez cohortes e acrescentou-as as vinte que já se encontravam ali; posteriormente, marchando contra os galaicos e lusitanos, derrotou-os e avançou até o mar Exterior, submetendo aos povos que ainda não prestavam obediência aos romanos [Plutarco. Cais. 12] A falsa bandeira do ataque foi-o “o saque e roubo de gado das tribos da montanha” pólo sul do Tejo [- os celtas da Europa, como os galaicos e os lusitanos, dedicavam uma parte do ano, normalmente no Inverno, a roubar ganhado nas vizinhas trebas. Adoptavam actuar os dias de espessa brétema, virando na retirada, as ferraduras às bestas. “-Senhor roubaram-nos o ganhado- -“Diz-me. É este ano ímpar? -É. É ímpar. É Senhor. -Não há problema os ímpares toca-lhes roubar a eles” – assim respondeu, um nobre da Escócia no S. XVIII, ao seu vassalo]. Com este pretexto, César, atacou e perseguiu pela costa atlântica aos “revoltoso lusitanos”, que reorganizados ao acudir na sua ajuda os efectivos galaicos, os seus aliados, apresentaram-lhe muita resistência dando tempo às suas mulheres e filhos à pôr-se a salvo, trás o Douro, em Gallaecia. “Cessar não se ocupou dos rebanhos; atacou aos bárbaros e venceu-os” (Dión Casio, 37, 52) Assim, trespassando o Douro, entrando pela costa César em Gallaecia, mítico O Dourado desde os tempos micénicos, perseguiu-nos até o Monte Hermínio, orónimo de Hermes, o Deus grego dos mortos, interpretatio greco-romana do Deus Celta, no seu aspecto de condutor e receptor de almas, Deo, Deus, alcunhado em dativo latino de singular de Lari Bero Breo: “Senhor da Alta Casa: Alta Cidade dos Mortos, erigida pela escatologia celta no cume da montanha; ou Breogo, “Hospedeiro”, pela Torre Hospedaria [das almas]”: Bero Briga, lugar sacro. – Como o assinalamos Alfredo e eu, falando de Berobreo-, e de Bero Briga, com muros de prata e portas de ouro, sobre a alta montanha da ilha – as Cies- . Derradeira morada das almas, que lá chegavam conduzidas por Oghmios, “O Caminho”, o Hermes Psychopompos dos Celtas. Para toma-las César esperou a chegada duma frota de Cádis. Fronte a outros historiadores que – por razões que se nos escapam- situan o cenário na Serra da Estrela. Como outros antes, também nós, atendendo a importantes factores de geografia mítica, situamos o Monte Herminio nas Ilhas Cies, lugar reservado para os mortos; consagrado a Don, “O Escuro”, o Hermes Celta: Breogo, Breogán, Berobreo, condutor, hospedeiro e alimentador de almas, situado fronte Ou Facho de Donón [Donom] onde os vivos depositavam suas aras. O Hospedeiro “Briugú”, recebia aos mortos que chegavam á Ilha na sua morada no alto da montanha, onde nenhum vivo podia entrar, chamada Alta Casa [dos Mortos]”. Os vivos, livrados da morte, lhe depositavam aras, agradecidos, com forma de estela funerária, no Monte de Donóm fronte ás Cies, importante centro de peregrinação de Gallaecia, antes e depois de César, como o é hoje Santiago ou Santo André de Teixido. Até – e desde- o 138 em que Bruto o Galaico ultrapassasse o rio Lethes (o Limia), Galiza vivera á margem de Roma. A toma das Insulae Deorum e Mons Herminius não foi fácil. Os romanos não eram marinhos, César improvisou barcaças; os galaicos andavam nesse mar todos os dias. Os defensores destruíram moitas balsas antes de que estas tocassem terra. As fortes mares da entrada da ria de Vigo fizeram o resto, levando as naves dos poucos que puderam chegar a terra que foram massacrados. Só um romano escapou a nado, trás se desfazer da sua armadura e gravemente ferido, Publio Scevio. César para proceder ao assalto das Ilhas dos Deuses, referencia importante de geografia mítica dos Celtas da Europa Atlântica ao ser o Monte Herminio dos romanos, a celta morado dos mortos Beróbriga , esperou a que chegasse de Gades unha esquadra de cem navios. E ainda assim os Galaicos e os refugiados Lusitanos, resistiram o ataque durante dois dias, o 24 e 25 de Agosto. Alguns escaparam por mar ás rias altas. César perseguiu-nos até Brigantium e as míticas terras do pichel dos Ártabros. De ser assim, estes acontecimentos estariam relacionados com o súbito abandono do Facho de Donóm. “E de ali navegando até Brigantium, cidade de Gallaecia, César atemorizou e submeteu aos brigantinos pelo rugido da navegação já que nunca viram unha esquadra (Deu 37, 52-53), pois seguramente, ante a desproporção dos efectivos, os galaicos ártabros e bergantinhos, conhecedores das penalidades sofridas pelos galaicos do Douro, comprando com seu ouro a Julio César, obtiveram a cambio de lealdade a Roma un tratado, Hospitium, com garantias, optando por manter os seus usos, costumes, propriedades e modo de vida, sem se expor a uma destruição -como passara no Castro do Facho de Donóm-. E sigenata pacata, “vencida e pacificada”, a Galiza Costeira, César pagou as suas copiosas dívidas com o ouro galaico, e recompensou com fartura aos legionários e tropas auxiliares, obtendo o triunfo do Senado. Mais obrigado a optar, por ocasião de prazos, entre celebrar o triunfo, – vestido como Júpiter, aclamado num carro Imperator até o Capitolio como Bruto o Galaico antes que ele -. ou optar pela candidatura ao consulado, escolheu o segundo.
Fronte a outra ilha, num muro do Lugar da Igreja em Santo André de Lourição, noutro tempo, dominante sobre Tambo [Ilha sita na outra extrema, fronte a Combarro], ria de Ponte Vedra, apareceu junto a três aras, achadas em construções de dito Lugar da Igrexa, decoradas com suásticas – uma delas anepígrafe e consagradas as outras ao Deo Vestio Alonieco, o baixo relevo de Lourição, do Museu de Ponte Vedra. Obviando o comum sentido em sociolinguística da cláusula “recebeu-o com os braços abertos”, merece algo mais que uma reflexão a quanto mais que ligeira análise do epíteto da mencionada divindade que sem sustem fez Alfayé:
“[…] lo cierto es que ni siquiera podemos saber con certeza si la imagen representada es la de un dios indígena-romano, suposición que se basa únicamente” – presupõe ela – “sobre la proximidad espacial de los lugares del hallazgo del relieve [Alfayé ActPal XI=Pal Hisp 13, 193-195 (2013), 207].”
Em princípio, aceitável crítica – de não esconder Alfayé [lógicamente a representação da imagem em baixo relevo com os braços abertos e os polegares assinalando de modo anormal, cara abaixo, ou cara atrás, amém dos cornos, e o Lugar da Igreja] o coelho no chapéu-, no entanto, alguns pequenos detalhes devem ser elucidados…

Anel, áureo e com entalhe, paleo cristão (A. Pena Granha), seguramente episcopal, procedente das Insulae Deorum “Ilhas Cíes”, Galiza, do século IV, d. C. com epígrafe IHE APRVS, que eu [André Pena] leio [em ligatura] IHE(svs) APR(in)VS “Ihesus (Jesús) ‘o do jabarím/ o do porco bravo’“. A importância deste anel é enorme para a Europa monstrando, em epoca muito temporã, o caminho integrador da interpretatio celto-cristã, ilustrando o nascimento do cristianismo celtoaltântico em Gallaecia (N. de Portugal, Galiza e Astúrias) que se produziu a partir do ano 314 quando documentamos os primeiros bispos.
VESTIO ALONIECO “HOSPEDEIRO ALIMENTADOR (BRIUGÚ BIATACH)”
À luz do epíteto temático aposto nas aras em dat. s. Deo, “ao Deus”, Vestio Alonieco, *Uest-io possív., “hospedeiro, ‘accomodation provider’”, ie *gwest + sufixo latino –ius; cf., comparativ. o latim hostpit-, de *hosti-pot(i)s, “protetor (E. Losada Badía) dos estrangeiros” > hospes “hospedeiro, invitado, estrangeiro”, o antigo inglês giest; gótico e holandês gast; o antigo eslavo gostĭ, e o antigo frísio jest, [jesthus, hoxe gasthuis, “hospital”].
[…] ET PER TRIVIA CEREOLOS INCENDERE [DE CORRECTIONE RUSTICORUM 16]
A voz sânscrita gasati, “consumir alimentos”, aludindo ao lugar de provisão de novo liga (Pena) o fogar do Hospedeiro com o ambiente hospitaleiro, um fogar feito com três portas na trivia ou tri ramot, “encruzilhada de três vias”. Assim relacionando o enigmático e descontextualizado epíteto do briugú rámatach Mac Eoin (em Bretha Etgid. CIH i, 255.7.), com um comentário sobre Cóic Conara Fuigill:
[…] a theach a comrac tri ramot, i, tri rot 7 mu chean fri cach gnuis; Nico eitig nach recht, nicon ursscara fri cach daim, nicon airme necah ciaba [a]mence CIH vi, 2273.39-41. “His house at the junction of three roads, (glos: ie three ways), and welcome to every face; He refuses no person, he excludes no company, he does not reckon it against anyone no matter how often he comes” .
E com UB CIH v, 1608.33:
TRI RAMUTA LAIS .i tri roid ar armus a tigi ara redend (sic leg.) cach cuigi “He has three roads, that is three roads coming towards his house on which everyone rides to him”. […] “We may see rámut” –diz Mac Eoin (‘Old Irish Briugú…’, 171)- “as composed or rám(a) ‘spade, pala’, and set ‘way, caminho (cf. Santistevo de Setes)’”. ‘Clearly’ – diz Gearóid Mac Eoin- ‘one of the conditions of Briugas was that the biugu’s house be at a cross roads for the convenience of travellers [‘Old Irish Briugú…’, 171].
O ambiente da briugaid dispensada pelo briugú na Terra, corresponde-se no Céu com a hospedaria do Deo Lari Breogo do Além, de Berobriga, celeste Jerusalém dos Celtas, onde nunca esmorece o lume baixo o caldeiro; o recinto de Deus hospitalario Vestio, Breogo, briugú, que abriga, e recebe oferecendo comida às benditas animas, com as hospedarias para alimentar ao peregrino no Caminho e o folkore do Ciclo de Valverde, embora [á, 78-85; 184-187] fique muito por percorrer na boa direção (Pena).
ALONIECO [SEM QUE SIRVA DE PRECEDENTE] ALMA PATER, “NUTRICIO DEUS”
Alon-ieco, possivelmente de *al (2), *h₂el- (V.); RB.: Pokorny 26 (50/50), envolvendo no indoeuropeu (ind., iran., phryg, dac., gr., ital., celt., germ., toc.) o conceito de alimentar, engordar, nutrir. al-an* “nutrem-se, crescem” (Lehmann A113); got. al-jan* (1) 3, sw. V. (1), “engordar”, (Lehmann A125); W.: germ. *alan, st. V., sich nähren “nutrir”, Pk 26; ae. al-an, st. V. (6), nähren, hervorbringen; “nutrir, abastecer”] as almas (A. Pena & H. Rodal).
Considerando os precedentes parágrafos a imagem e as aras votadas, não como crê Alfayé em diversos lugares, mas frente à ilha de Tambo, no que os galegos batizam lugar, em Lugar da Igreja, Lourição, Deo, “a Deus”, em dat. de sg., seguido do epíteto temático Vestio Alonieco, concibe a Deus recebendo as almas peregrinas no Céu nos primeiros tempos do cristianismo, numa Provincia Gallaeciae cristã dende o 314, como Vestio, “Hospedeiro”, do Além, com os braços abertos, o material, datável nas primeiras décadas do S. IV, exige interpretatio celto-cristiã [omito lembrar que há uns anos olhei no Museu Catedralício de Mondonhedo com cornos -anos depois já não os voltei ver- a pomba da Santíssima Trindade]-.
BRANCO, E EM GARRAFA!
Ante os sólidos argumentos expostos, examinado o conjunto com algo mais que fortuito concerto, restaurada à função da imagem, sendo o correlato da epigrafada ara que [na interpretatio dos primeiros anos do cristianismo] invoca como provedor a Deus, Nosso Senhor, Hospedeiro do Além e o baixo relevo que o representa recebendo com cornos, braços abertos, e polegares virados para abaixo, evidente, fique a insustentável hesitação da Alfayé desvelada e com o gato quem queira gato sempre que não pense que lhe dão lebre. (A. Pena).
“TRÊS VIAS, CAMINHOS”
A “Coisa Celta -também nós temos direito a nos equivocar-, acima da língua, literatura, artes e artesanias, da percepção New Age do ‘Zapatero’, da próspera paletoitálica rana, do sedento linguista, da apereirada ‘marroquina gaita’, da manobra política, da celtofobobia dos que Calo aquí, etc., é produto tanto no passado pagão como no presente cristão de um teocrático sistema piramidal, regulador de direitos e obrigações constituído, adequado de acima abaixo o tráfico jurisdicional e as instituições do Toudo ou da Treba, Terra ou Territorio, ao amparo duma comum religião monoteísta trinitária de remota [Neolítica] origem luni-solar, fundada sobre a Lei Universal “todos os homens temos um alma inmortal emanada Deus” [Dis Pater]”, custodiada, interpretada, desenvolvida e aplicada à margem da práxis popular por druidas ou, como seguramente lhes chama a epigrafia galega, durvedes, “doutores”.
Tal unidade foi possível, seguramente, graças à rígida educação de afortunados filhos segundos das ‘melhores famílias’ da Europa, a meu modo de ver (Pena 2011), hoje como ontem atraídos, pela excelência do ensino e do professorado – como em Oxford, a Sorbona ou Bolonha-, se indo [Se supõe –diz César- que estes saberes se elaboraram em Britania e que de ali têm sido trazidos à Galia e agora os que querem obter um mais depurado conhecimento da matéria vão estudar lá (a Britania)], quando um centro desce de nível a outro mais reputado.
OBSERVATÓRIO OU UNIVERSIDADE ?
Sobre o ano 50 a. C. o historiógrafo Diodoro de Sicilia descreveu em Britania um templo, seguramente Stonehenge, utilizado como observatório do ano metónico, do ciclo solar e lunar [fala em clave de Religiao Celta da virginal Mater do solar diyng god Lugh, Leto mãe de Apolo para um grego] e também dum povoado próximo [um centro monástico em realidade composto como amosa a Arqueoloxía, por mais de mil pequenas celas], habitado segundo parece por monges entregados ao culto, seguramente a escola druídica, verdadera universidade internacional, com seus observatórios, impartindo a longa aprendizagem de vinte anos, o que dura o ciclo metónico Que casualidade!
Um inter e multidisciplinar conjunto enciclopédico de saberes e conhecimento, atesorado englobando o divino e humano, uma privilegiada aprendizagem da comum matéria e a mais avançada ciência do momento: Teologia, Direito, Matemáticas, Astronomia, Medicina, etc., comum matéria que casualmente na Roma decadente do século V o escritor latino Martialis Capella, possível Procónsul da África englobaria sub vocabulo Trivium e Quadrivium.
ELOQUÊNCIA TRIVIAL
Precisamente o mercurial latín TRIVIUM se corresponde com a Eloquência (Gramática, Retórica e Dialéctica) associada por Luciano Samosata em tempos de Marco Aurelio a Oghmios “O Caminho” . Que casual casualidade Não lhes parece?
Sócio ao Caminho escrito no Céu estrelado de Europa, hoje de Santiago, desde faz anos desde múltiplos ângulos, mostrei em não poucas publicações, a modo dum muito velhote, calvo e chosco São Pedro pagão, ao Deus alcunhado Oghmios, “O Caminho”, ‘Mercurio’ Celta por excelência, conduzindo desde a Prehistória como mostram os petróglifos bálticos, ao finisterre atlántico, à pétrea barca -quando Deus a guia, a que melhor frota -, a bom porto, à hospedería [com seu caldeiro sempre cheio] de Deus, alcunhado Breogo [Briugú biatach], a Verobriga, atadas da corda [para que não se lhe percam], as frágeis almas…animula, vagula, blandula.

Domenico Tebaldi. Hercules Galicus . Biblioteca del Escorial [fragm.]. Assim -e quem possa entender que entenda- descreve a Hércules Oghmios Luciano de Samosata associado à eloquência: Preludio Heracles 5. 1 1 “A Heracles os Celtas chamam-no Ogmios usando uma voz do pais, e a imagem do deus pintam-na muito rara. Para eles é um velhote nas últimas, calvo por diante, inteiramente canoso nos cabelos que lhe ficam, enche de arrugas sua pele tostada até a completa negrura, como os velhos lobos de mar. Dantes tomá-lo-ias por um Caronte ou um Jápeto do Tártaro que por Heracles. Mas, apesar de suas traças tem a indumentaria de Heracles: leva cingida a pele do leão, tem a maza na diestra, porta o carcaj e bandoleira e sua mão esquerda mostra o arco tenso. Em todos estes detalhes é plenamente Heracles, sem dúvida. 2 Eu cria, portanto que os celtas cometiam arbitraridades na figura de Heracles para irrisão dos deuses gregos, se vingando dele nas representações, porque uma vez percorreu seu território o saqueando, quando em procura dos rebanhos de Gerião, correu a maior parte dos povos de Occidente. 3 Mas ainda não disse o mais surpreendente de sua imagem. Este Heracles velho arrasta uma enorme massa de homens atados todos das orelhas. Seus laços são finas correntes de ouro e ámbar, artísticas, semelhantes aos mais belos colares. E, pese a ir conduzidos por elementos tão débis, não tentam a fugida -que conseguiriam facilmente-, nem sequer resistem ou fazem força com os pés, se virando do avesso em sentido contrário ao da marcha, senão que prosseguem serenos e contentes, vitoreando a seu guia, se apressando todos com a corrente tensa ao querer se adiantar; ao que parece ofender-se-iam se se lhes soltasse. Mas o que me resultou mais estranho de tudo não vacilarei no relatar: não tendo o pintor ponto ao que unir os extremos das cadeas, pois na diestra levava já a maza e na esquerda tinha o arco, furou a ponta da língua do deus e representou a todos arrastados desde ela, já que se volta sorrindo a seus prisioneiros. 4 Permaneci em pé muito tempo contemplando o quadro, cheio de admiração, extrañeza e ira. E um celta que estava a meu lado, não ignorante de nossa cultura, como demonstrou em seu magnifico domínio do grego -um filósofo [druida], ao que parece, dos costumes pátrias-, disse: 5 Em princípio, se esse velho Heracles [-Isto é, a Eloquência-] arrasta aos homens atados das orelhas a sua língua, não te estranhes disso, pois conheces a afinidad entre os ouvidos e a língua. E não é um agravio contra ele que a tenha perforada, pois lembra -acrescentou- uns versos cómicos em yambos que aprendi entre vocês: quem falam em extremo “a língua têm todos perforada”. 6. Numa palavra: nós achamos que Heracles o conseguiu tudo graças à palavra por ser sábio, e mediante a persuação dominou quase sempre. E suas setas são as palavras -creio eu-, agudas, certeiras, rápidas, que ferem as almas. Aladas dizeis vocês também que são as palavras. 7 Isso disse o celta. […]” Ex Biblioteca Clássica Gredos, 42. Luciano Obras I. “Preludio Heracles”. Trad. Alfonso Martínez Díez. (1996)
O caso é que nos hospitais, nos trivia do Caminho chamado pelos gregos Heracleo – que descobri traçado numa glosa do Pseudo Aristóteles (Mirabilia), já com plena protecção penal internacional ao peregrino- Oghmios “Caminho”, bondadosa divindade condutora das imortais almas coincidiu com o crepuscular paredros Hermes, e com seu compatriota Hércules, que no décimo trabalho foi tomar emprestada a copa do sol ao finisterre para ir à vermelha ilha.
![Promptema do epíteto [do solar dying god Lugh] setantianieco](https://andrepenagranha.files.wordpress.com/2014/05/promptemasetantianieco.jpg?w=640&h=259)
Promptema galaico-irlandês dos epítetos do solar deus [Dying God, Lugh] Setanta, “Anda Caminho”, e de Bandua ,“O Atado”. Esquerda, ara galaica votada por Caudio ao [Deo Lari?] Setandianieco [c/g]. Centro esqu. Morte de Setanta por Stephen Reid; Centro. dir. Peça, seguramente de fichel, possivelmente a primeira ficha [sic, não peça] conhecida do jogo de ajedrez, representando a Bandua raiz *bhnd , “vendar, atar” -olhem a corda rodeando o peito- , de Banhos de Bande, Galiza. Direita. Morte de Setanta, estatua de Oliver Sheppard, GPO, Dublin.
Peregrinos de muitos lugares, religiões e países pelo Caminho, calcando os passos do divino Oghmios, do Lar Setantanieco, “Que anda pelo Caminho [das animas]”, compartilhando mesa e trivial conversa nas hospederías, imaginaram a Oghmios voando como Hermes com as atadas almas [como o representa Alberto Durero no S. XVI]; ou como Hércules com maza arrastando atadas as almas [como também no S. XVI o pintou sobre a porta da Biblioteca do Escorial Domenico Tebaldi]; ou como o apresentam os baixo relevos galos, como um São Roque ou como Hércules, vultus Sacti Petri.
Trivium e Quadrivium Quantos mistérios se escondem por trás de inocentes nomes? Há linhas rectas que parecem curvas. Em calquera caso o milenário conhecemento impartido pela universal Igreja Celta, aos jovens nobres precisava de vinte anos, um tempo forçoso para vislumbrar os segredos do ano metónico.
Retornando já ordena dos os lugares de origem depois de duas décadas de ausência, os druidas aplicavam a bem aprendida Universal Common Law.
STONEHENGE & DURRINGTON WALLS
Quiçá Mike Parker Pearson teve razão ao dizer: “We think we have found the village of the builders of Stonehenge, comentando em Janeiro de 2007 a excavação do enorme povoado [Durrington Walls] com mais de mil celas de 5 m2, do Neolítico Final e Calcolítico [e psvlm. também do Bronze] a 3,2 kilometros de distância de Stonehenge.
Mas reclamando meu dereito a me equivocar, ajuízo que Parsons puido bater com as celas dum Colégio Britânico dos Druidas -não menos prestigioso, que hoje Cambridge ou Oxford- ao que aludirão, César em passado e em presente, Diodoro, Hecateo e algum outro:
[ … ] Cremos não será inadecuado [-dize Diodoro-] a nosso propósito debater dos que escreveram sobre antigos mitos os legendarios relatos dos Hiperbóreos, Hecateo [ca 350 aC ] e alguns outros dizem que nas regiões além a terra dos Celtas há uma ilha no mar não menor que Sicília [com segurança Britania].

Stonehenge. By Jules Ferrario. Published by Jules Ferrario, Milan. Copper engraving; hand colored, 1827. Colorful view of a celebration at Stonehenge
A ilha segundo conta-se, situada no norte, está habitada pelos Hirperbóreos, denominados assim por se encontrar seu lar além do ponto onde sopra o vento do norte (Boreas); e é tão fértil como productiva de todo cultivo, de facto ao ter um inusual clima temperado [pela Corrente do Golfo] produz duas colheitas ao ano. Tambem contam sobre ela esta lenda: Leto nasceu na ilha, pelo que Apollo [seu filho] é entre eles honrado sobre todos os outros deuses; e todos os habitantes são considerados, em verdadeiro modo sacerdotes de Apolo pois que se alaba a este deus sobremaneira todos os dias entoando continuamente cantos em sua honra.
E também se encontra na ilha um magnífico recinto sagrado de Apolo e ornado de muitos exvotos um importante templo que tem forma esférica. Há ali também uma cidade consagrada a este deus e a maioria de seus habitantes [seguramente um centro monástico], são tanhedores de cítara; e tocam continuamente este instrumento no templo e glorificando seus factos cantam hinos de louvor ao deus […] .
Dizem também que a Lua, olhada desde a ilha, semelha estar a pouca distância da terra e ter prominencias, parecidas às que tem a Terra, e que são visíveis à vista. Conta-se também que o deus visita a ilha a cada dezanove anos, o período no que se remata a volta das estrelas a sua prístina posição em os céus; e por esta causa os gregos chamam “ano de Metón” ao período de dezanove anos. Ao alvorecer o deus sai dançando e tocando a cítara até a noite através do equinoccio de primavera até a saída das Pléiades, expressando deste modo sua complacencia pelos seus propios sucessos. E os reis da cidade e os supervisores do recinto sagrado chamam-se Boreadas, já que descem de Boreas, e a sucessão dos cargos mantém-se sempre na prosapia. Diodoro de Sicilia, L. II. 47.
III COMUN QUARTO PARA BEBER. BRIUGAID

Quarto ou salão da antiga Gallaecia [a.i. midchúairt], para o banquete celta. Oppidum de Briteiros. Gallaecia de Portugal.
A título de indiscrição, a divina noção da briugaid, “hospedagem”, tem consequências jurídicas. Existe na Celtic Common Law uma generosa função de provisão de hospitalidade [a.irl. briugaid, briugas; briugamlacht, “generosidade” – não por acaso com um pé no Além -] uma obrigação de ‘dar de comer ao senhor, seu séquito e cavalarias’, nomeada na Galiza, censo, jantar, conducho (conduto), colação ou colheyta [b, 289-295]. A trebad “possessão em harmonia e paz pelo soberano da Treba, ou Túath, Toudo”, na Irlanda expressa-se na dispensa de, biatad, jantar, pela classe dos hospedeiros [singular briugú (biatach)], ‘cujo altíssimo rango e posição dependem da provisão de hospitalidade a quem a demandar’.
Assinalamos já muitas vezes a relação entre o briugú e a briugaid, com a casa castreja com banco corrido [l, 113-142] e o irlandés biatad [Sullivan, cxiii] com o medieval censo, conducho, collação e jantar galaico [p, 134-143]. Como assinala Kim Mc. Cone (1990, 86-87; 125) todo o sistema da treba ou toudo fundamentasse nas actividades do Grád-Túaithe, classe de soldados lavradores proprietários de terras chamados ‘os grados do estado / sociedade laica”. As actividades do Grád Túaithe em torno da posse dos bens e propriedade numa ‘Terra em paz’ chamanse trebad, palavra da soberania doméstica que não convém perder de vista por sê-lo nome da unidade política territorial galega, a Treba [Pena 1994]. O papel era em primeiro lugar desenvolvido por um rí ou rei [á, 174; 285-286], e pelos senhores, revelando-se logo o seu mais aparente que real ‘caráter pacífico’ numa subalterna gradação [á, 186 ss]; em que salvo o rei ou o grande nobre o briugú [caso do camponês foreiro] não desenvolve um papel militar. O não cumprimento pelos recetores de terras da antedita obriga de biatad chamada en Galiza colleita, colação, subvertía a a legalidade, orden social.
COMPRIDAS CASAS COM ASSENTO CORRIDO

Refere-nos Posidonio como em ocasiões -comportamento comparável ao dos moços galegos nas festas paroquiais de algumas aldeias, ao menos até os anos 60- , os celtas fazem duelos em suas festas. Mostra-os indo sempre armados a essas reuniões, nos descreve como os comensais acabam freqüentemente feridos e como a briga, subindo de tom, se ninguém se interpunha, se podia converter numa luta a morte. Não esquece mencionar Posidonio o ‘antigo costume’ de que ao trinchar a carne era reclamada pelo mais valente a melhor porção, a parte do campeão, e como, se alguns outros a reclamavam se levantavam da mesa os pretendentes e lutavam até a morte. Desenho de Eva Merlán assessorada pelo autor, para a História Ilustrada de Narón (VV. AA.
A arqueologia constata na Galiza este aspecto da Trebad, a obriga do jantar [do biatach] nas compridas casas com assento corrido ou sem ele, verdadeiros midchúairt onde olhamos nas fontes os cavaleiros almoçar sentados em bancos o redor das paredes, sitúandose segundo a idade e a dignidade [enquanto] a comida se vai hierarquicamente passando em roda, dum modo similar ao que Ateneo, citando a Posidonio, refere [p, 112-113; 135-142].
“LA VERGÜENZA DEL GALLEGO” E A FALTA DE VERGONZA DOUTROS PAGOS FORÁNEOS
Mais não é preciso ir tão longe pois o costume segue ainda vigente hoje, de modo assinalado o ‘dia do patrão’, nos lugares, paróquias da Galiza, sendo mesmo impensável para nos que se possa esgotar num almoço ou jantar a comida. Quando um galego come fora do pais não concebe que o hospedeiro possa deixar que as viandas se acabem, isto é para nós uma violação da mais alta qualificação do briugú: a gart, “xenerosidade”, [Mc.Cone, 127] e uma vergonha muito grande, como em Irlanda, em Galiza se nos cairia a cara de vergonha de esgotar-se a comida. Éis o contraste entre a chamada “vergüenza del gallego” e a menos indoeuropea “falta de vergonha” doutros pagos forâneos [p, 134-148].
AULA DOMESTICA REGUM. AULA COMITIS
Explica finalmente a função das dignidades medievais do paço [aula regis, aula comitis, etc], o ostentoso banquete que se ofrereceu ao monarca novo o 17 de setembro de 1.111, no paço de Gelmirez – paço real em realidade, pois a briugaid obriga ao vassalo a manter ao senhor e o seu sequito como amosa a Historia Compostelana (152) quando o Conde de Galiza, D. Pedro Froilaz entronizou en Santiago ao infante Afonso Raimundez.
“[…] aginha, uma vez [proclamado Afonso Raimundez, rei da Galiza] celebrada a misa solenemente, levando segundo o costume ao novo rei ao seu paço, convidou o bispo [Gelmirez] a tódos os próceres da Galiza ao banquete real, onde o claríssimo conde Pedro foi dapífero regio e seu filho Rodrigo sustentou como armeiro a espada do rei, o escudo e a lança [armiger, alférez], Munio Pelaez apresentava ao rei os manjares, e á fartar vinho e sidra mandava servir todas as mesas Bermudo Perez, e assim, com fartura de todos nas variadas e bem adubadas viandas, entre ledas cantigas e loubanças, passou tão assinalado dia” [Hª C., 142]
Como senhor da terra de Santiago, cidade episcopal capital do reino, o bispo [vassalo do rei] está obrigado a ceder seu paço e residência e manter [o briugú é biatach “alimentador, mantenedor”] a seu senhor o rei e aula regia ou chancelaria quando nela mora [como tinha sucedido também com o paço episcopal de Lugo]. Assim convidou o bispo [Gelmirez] os próceres ao banquete real, sendo briugú o bispo Diego Gelmirez, o Conde Maior de Galiza Dom Pedro fez de repostero maior, seu filho Dom Rodrigo Perez, serviu como portador das armas reais, outro filho do conde, Don Bermudo, fez de copeiro, apresentando finalmente ao rei os manjares o genro do Conde de Galiza, segundo rígido e velho protocolo celta.
[em revisão, desculpem as gralhas]
André Pena & Michelette Harris
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